E foram felizes para sempre


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Empolgadíssimamente (permitam-me o superlativo), inauguro a coluna “Elocubrando hoje” aqui no Terra de Lucas.

O clichê mais romântico e redundante das histórias de amor e contos de fadas: 'E foram felizes para sempre... ' Aceitamos essa linda frase e absorvemos para  as nossas vidas romanticamente.
As meninas desde cedo buscam então enfeitar suas cenas mentais de amor e paixão e esperar pelo príncipe encantado que irá fazê-las felizes para sempre. E de maneira primorosa e aguardam ansiosas o dia em que serão tiradas da casa de seus pais, receberão segurança e cuidado. E se preparam, algumas, única e exclusivamente para isso. Como se houvesse um botão automático que garantisse esse fim.
Mas, será que já atentamos para o termo "para sempre?" Para todo o sempre é longo... Alguém já viveu para todo o sempre? Alguém tem noção do peso de “para sempre?" Somos tão enfeitiçados e mesmo magnetizados pela fantasia dos contos de fadas que transportamos coisas fantásticas para nossa realidade. Por que gostamos tanto? Ora, o príncipe encantado não deve ter xulé, ele não tem mau-hálito ao amanhecer, nem precisa trabalhar pois já é príncipe. Justamente por isso não paga contas, não chega estressado do trabalho e não tem instintos animalescos- quase anjo- ele chega num cavalo branco e oferece um reino de amor eterno a sua escolhida. E elas, as princesas, só precisam se preocupar com o seu amor e com a roupa de gala do baile de máscaras. Elas não precisam ter dupla-jornada, não se preocupam com os afazeres domésticos, não lavam louças, não pegam em vassouras, não têm TPM, nem odores fortes, nem vivem brigando com a balança, elas são princesas- quase ou mesmo sem defeitos.
Penso que seja isso que encante! Esse fantástico de ser um humano sem erros. Contos de fadas não mostram o lado 'chato' das rotinas, o lado humano do amor e da paixão com seus labores, dissabores e sabores... Corremos disso, temos desejo intenso pelo belo, pela utópica perfeição... Aponte-me um ser perfeito e eu o adorarei! Mas não existem fadas, príncipes e nem princesas e já faz um tempinho que eu sei disso, e se querem saber, isso é muito bom!
Os seres humanos, esses errantes, são tão divertidos e diversos, não viverão felizes para sempre, oscilarão, serão cada dia mais fortes, mais simples, mais vivos e lutarão contra a acomodação e a rotina. E a fantasia, ficará restrita apenas aos livros. E nossas menininhas, um dia, quem sabe, cresçam sem criar expectativas de um ser que só existirá em histórias num papel- que se acabe de uma vez o patriarcalismo-, e deixem de viver um sonho fantástico, aprendam a amar o ser imperfeito, de carne e osso, que é o que de fato existe. Porque os contos fantásticos, eu prefiro restringir mesmo à Literatura, ela sim me possibilita o irreal.

Ana Paula Duarte. E sou FELIZ nesse instante.

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