Já
começo este texto repetindo o título: alguém precisava escrever sobre isso. E
por que não eu, que tenho sentido na pele os feitos e efeitos do assunto que
irei introduzir.
Pois bem: ei-lo aqui!
Estava assistindo a série televisiva Sex and the city (O Sexo e a
Cidade), premiada série norte-americana do final da década de 1990- início dos
anos 2000. A série fala sobre quatro amigas solteiras com personalidades e
sonhos diferentes, entre as fases da juventude e os 30 e 40 anos, vivendo
seus dilemas e alegrias na selva de Nova Iorque, em busca de sucesso
e amor(es) (para saber mais da série clica aqui (O
link é http://www.hbo.com/#/sex-and-the-city). Nesse
episódio em questão, a protagonista da série, a escritora Carrie Bradshaw,
linda, inteligente, chique, complicada e tantas vezes solitária e cheia de
ilusões é pedida em casamento por Aidan, seu namorado. Até aí tudo bem, e aí
vem a pergunta: e daí, o que há de extraordinário nisso? Bem, muita coisa.
Primeiro porque aqui estou me abstendo de uma visão romântica da vida e me
apegando a sociedade pós-moderna em que vivemos.
E dito isso, vou chegando aos
poucos nos pontos x que quero tratar. E um deles é o fato de Carrie ser linda,
inteligente, independente financeiramente (e psicologicamente algumas vezes,
além de politicamente e religiosamente, rs) e conseguir que um homem não saía
correndo dela, o contrário, Carrie consegue o que as mulheres pós-modernas hoje
têm com menos frequência: pedidos de casamento. Isso porque é bem verdade que
as mulheres que possuem todos estes e muitos outros adjetivos suprimidos aqui
(incluindo bom humor e sensualidade) afugentam boa parte dos homens dessa era.
Pelo menos isso é o que eu e TODAS as minhas amigas vivenciamos (sim, somos
todos esses adjetivos, rs).
E eu entendo perfeitamente.
Afinal, como parte dessa geração feminina, sei que a criação foi e tem sido diferente.
Não fomos ensinadas a colocar a mesa para todas as refeições para maridos, a
falar baixo, ficar de cabeça baixa, aprender a bordar e a cozinhar, a esperar
rapaz na janela e todas as outras atribuições das moças do século passado,
inclusive pajem. Tivemos acesso a mais informação e empoderamento, conquistamos
muitos espaços, nosso tempo é destinado para atividades mais externas que
domésticas, estamos vencendo.
Mas, moças, lamento informar que
essa nossa vitória tem sido muito mais no âmbito do financeiro e econômico do
que no campo político. O sistema capitalista nos faz, de certa forma, pensar
que somos livres, mas não é bem assim. A nossa mente continua em constante
bombardeio entre antigas e novas convicções e comportamentos. Ainda somos muitos
machistas, sim.
E voltando a Carrie, seu noivado
foi visto pelas três amigas de ângulos diferentes, mas é claro que a maioria
venceu com o pensamento de que Carrie não era "pra casar". E Carrie,
feliz da vida, dizia "enfim, posso dizer que sou dessas: de casar".
Juro que não é recalque (como já
ouvi um dia), mas queria entender porque as pessoas fazem esse "fuá"
todo quando o assunto é casamento. Adoro ir a casamentos, comer e beber, dançar
até o sol raiar. Mas a parte chata é essa ideia romântica de salvação, de
redenção, uma dependência que não é tão perceptível pelo abuso de fru-frus e
lacinhos, além das flores de defunto. Talvez eu até inveje isso, essa visão de
completude, que não tenho.
Olhando minha história, bem,
nasci, fui crescendo moça "pra casar" e com o tempo fui saindo desse
padrão (graças a Jah), dessa classificação que é feita por nós e nossa
sociedade chegada em complicações. Mas, enfim, o que há de ser das moças que
não são pra casar? Elas são, muitas vezes, vistas na sociedade como mutiladas,
anômalas... São as "coitadinhas que não tiveram sorte" (by minha
vizinha), não foram escolhidas. Isso dói e mexe com o nosso íntimo, sim, nos
afeta. Entramos naquele bombardeio mental que nos faz quase cair nessa
ladainha. É um exercício difícil e doloroso o de libertar-se!
Prefiro escrever sobre o que vivi
ou estou vivendo. E tenho sido bombardeada por diversos lados. Tudo porque
estou há três anos (ainda) da casa dos 30! Minha mãe a todo tempo fala sobre o
meu cabelo curto e despenteado (fazer o que se optei por libertá-lo da morte
química dos cosméticos?), ou que estou acima do peso (73 kg e uma pancinha
de chopp para quem tem 1, 67 de altura) e que preciso arrumar alguém pra casar
antes que as celulites tomem conta de tudo e o corpo fique flácido. Minha avó,
meu tio, minha prima e aquela amiga diariamente cantam para mim o mantra da
academia. Atividade física faz bem pra saúde, não é? Sim, pra saúde, não fazem
pra mente quando ela aprisiona o corpo e o condiciona a um padrão no qual ele
não vai caber e nem quer. E quanto a essas colocações, na hora eu até
rebato, mas depois relevo. Não é um discurso dessas pessoas, é que elas me amam
muito, querem meu bem e acreditam mesmo nessas ideias, afinal, foram educadas
assim, condicionadas a reprodução desses discursos.
As pessoas falam tanto na beleza
do casamento, do encontro, de uma companhia e acabam esquecendo a essência
disso tudo: um sorriso, uma boa conversa, bom humor, aventuras, histórias,
defeitos, enfim, um relacionamento com outro ser humano imperfeito, em
caminhada, em aprendizado como qualquer outro.
Mas teimamos em buscar uma
perfeição que nunca vai chegar, e pras mulheres é pior, isso porque se criou um
ideal de perfeição física que vem acabando com a vida de nossas meninas. Nos
tornado reféns, manequins de gesso, de plástico...menos de carne.
Eu ainda acredito na beleza de um
encontro, não que me complete, pois sou inteira, mas que some, que esteja
fundamentado bem longe dessas questões passageiras, baseado na beleza sui generis que cada uma de nós tem. Um amor-
liberdade espero!
Outro fator que foge da questão
estética e perpassa pelo viés do capital e do consumo é a ideia
de que a mulher independente tem obrigatoriamente que ser bem
sucedida financeiramente. Ter carro, casa própria, estudo, muito dinheiro para
luxar e vestir as melhores marcas em sapatos, bolsas e acessórios (Taí um
sonho: que todas tivessem direito a tudo isso, não é? Nada mal). Mas a
questão o quanto isso também nos torna reféns de disputas entre nós mesmas, no
mercado de trabalho (onde não concorremos de igual pra igual com os homens) e
muitas vezes no campo afetivo (segundo as estatísticas existem 4 mulheres para
cada homem que nasce), onde nos digladiamos e nos difamamos de modo torpe. Há,
ainda, a parte que muitas pessoas se equivocam, crendo que o empoderamento
financeiro é o mesmo que empoderamento político.
E não há neste texto nem mesmo a
tentativa de uma conclusão. É apenas uma reflexão seguida de um chamado à luta,
para desconstruir as ideias de falsas liberdades que nos enganam, que faz
muitas vezes objetificar nosso corpo, rejeitá-lo em favor de outro modelo. Que
nos faz acreditar que já conseguimos tudo, quando ainda falta muito a construir
no caminho das políticas para as mulheres, na busca pela equidade de direitos.
Apologia aqui não é em favor da solitude, da solidão... Mas em favor de uma
liberdade individual feminina, de corpo, mente e alma!
Carrie não se casou com Aidan.
Acabou o traindo com seu ex-namorado, com quem mais tarde se casa, vivendo um
casamento fora dos padrões (era monogâmico, pra esclarecer, o fora dos padrões
é porque era longe das chatices de um casamento dentro dos padrões,
patriarcais, também cristãos). A felicidade não segue padrões!
Alguém precisava escrever sobre
isso, ter coragem para ser a cobaia, desnudar as dores femininas. Ainda fui
superficial, mas creio que já deu pra iniciar uma reflexão necessária sobre as
dores e delícias de ser uma mulher nessa nossa Pós-modernidade.
Eu: totalmente fora dos padrões! Eles não me aguentam meeeesmo!
Ana Paula Duarte. Para todas as mulheres: de condição biológica,
de gênero, de alma!
Afinal, “Não se nasce mulher. Torna-se mulher.” Simone de Beauvoir
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